INTRODUÇÃO
Disfunção erétil (DE) é definida pelo National Institute of Health (NIH) e pela American Urological Association (AUA) como a incapacidade persistente de alcançar ou manter uma ereção adequada para a satisfação sexual. A DE ocorre em graus variáveis e apresenta-se associada a efeitos adversos sobre a qualidade de vida, particularmente sobre o bem-estar pessoal e inter-relações familiares e sociais.
Foi estimado que em 1995 houve mais de 152 milhões de homens no mundo com algum tipo de disfunção erétil. A projeção para 2025 espera uma prevalência de 322 milhões de homens, aumentando com a idade, sendo de 1 a 10% em homens com menos de 40 anos, 2 a 9% entre 40 e 50 anos, 20 a 40% entre 60 e 69 anos e 50 a 100% em homens com idade igual ou superior a 70 anos.
Diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica bastante prevalente em todos os continentes, com 371 milhões de indivíduos acometidos em 2012. Estima-se para 2030 a existência de 552 milhões de diabéticos.
O aumento da glicemia presente na DM é o principal determinante das complicações vasculares e microvasculares e teria participação na fisiopatologia da DE em indivíduos diabéticos, que frequentemente possuem outras comorbidades clínicas: hipertensão arterial, sobrepeso, obesidade, síndrome metabólica e aterosclerose, que também seriam fatores de risco para DE.
O consumo de bebidas alcoólicas tem aumentado bastante nas últimas décadas, sendo que a prevalência de dependência alcoólica na população das 107 maiores cidades brasileiras é de 12,3%. Acredita-se que possa haver relação entre alcoolismo e DE.
Estudo brasileiro realizado na cidade de Salvador obteve incidência 2,5 vezes maior, 65 casos anualmente por 1000 homens nesta mesma faixa etária. Este resultado foi atribuído à maior prevalência de fumantes, hipertensos e portadores de doenças cardiovasculares nesta população.
CLASSIFICAÇÃO DA DISFUNÇÃO ERÉTIL
A DE é classificada após anamnese, história psicossexual, exame clínico e laboratorial em orgânica, psicogênica ou mista. A predominantemente psicogênica possui aparecimento agudo, situacional, de curso intermitente, com ereções noturnas ou não coitais preservadas. As causas orgânicas usualmente têm etiologia vascular, hormonal ou neurogênica de forma isolada ou associadas.
A DE vasculogênica e a doença cardiovascular (DCV) têm comum fisiopatologia: disfunção endotelial e inflamação, que determinam obstrução vascular em estágios mais avançados.
TRATAMENTO ATUAL DA DISFUNÇÃO ERÉTIL
Em relação ao tratamento, a mudança no estilo de vida, diminuindo os fatores de risco, principalmente com perda de peso e prática de exercícios físicos regulares, deve preceder ou acompanhar a terapêutica com medicamentos e tem impacto no controle da disfunção erétil em pacientes obesos ou com sobrepeso.
A DE não orgânica deve ter uma abordagem psicossexual com resultados variáveis.
Na DE resultante de traumas arteriais, em pacientes jovens, a cirurgia de revascularização microcirúrgica tem bons resultados a longo prazo, em torno de 60 a 70%.
A causa hormonal de DE pode ser efetivamente tratada com reposição de testosterona, após exclusão de outras causas endócrinas para falência testicular e adequada investigação para câncer prostático, necessitando seguimento periódico com toque retal, antígeno prostático específico (PSA) e hematócrito. Estudos recentes demonstram que a terapêutica com reposição de testosterona não aumenta a incidência de câncer prostático.
Tratamento medicamentoso oral, considerado como primeira linha, é realizado com um dos tipos de inibidor seletivo da fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), não sendo responsável pela iniciação da ereção e requer estímulo sexual para que esta ocorra.
Sildenafila (ViagraÒ), lançado em 1998, foi o primeiro PDE5 comercializado, com efeito após 30 a 60 minutos da sua ingestão, com bons resultados quando comparados com placebo. Vários estudos demostraram sua eficácia e segurança, mesmo em indivíduos diabéticos, hipertensos e com doenças cardiovasculares, possuindo inclusive efeito protetor cardíaco. O vardenafila (Levitra®) possui estrutura e propriedades químicas bastante semelhantes ao sildenafila.
Tadalafila (CialisÒ), com meia vida mais longa e efeito mais prolongado que o sildenafil, foi testado em uso diário com doses mais reduzidas (2,5 e 5,0 mg), em relação à posologia habitual de 20 mg, obtendo-se satisfatória tolerância e efetividade. Similar resultado ocorreu em pacientes diabéticos.
Pacientes prostatectomizados, pela técnica preservadora de feixe vasculonervoso, obtiveram menor taxa de DE com uso de 5 mg de tadalafila diariamente quando comparado com placebo nos primeiros 9 meses de acompanhamento após a cirurgia.
Ensaios clínicos demonstraram que os inibidores da PDE5 possuem boa segurança e não aumentaram a incidência de Infarto Agudo do Miocárdio, sendo o uso de nitratos para vasodilatação coronariana a única contraindicação formal para seu uso.
Pacientes que não respondem à terapêutica oral com dose plena são candidatos à segunda linha de tratamento, com injeção intracavernosa de alprostadil isoladamente ou associado a papaverina e fentolamina. Possui eficácia entre 70 e 94% na atividade sexual, porém seu uso muitas vezes é descontinuado devido a dores penianas (50%), ereções prolongadas (5%), priapismo (1%) e fibrose do corpo cavernoso (2%).
Implante cirúrgico de próteses semirrígidas ou infláveis pode ser considerado quando houver falha com a terapêutica medicamentosa, com índice de satisfação em torno de 70%, sendo a infecção do sítio cirúrgico sua temida complicação.
PERSPECTIVAS DE TRATAMENTOS FUTURO
O estudo dos mecanismos envolvidos na ereção peniana pôde proporcionar o desenvolvimento das atuais medicações utilizadas para o tratamento da disfunção erétil, porém novas medicações poderão ser desenvolvidas com a compreensão dos mecanismos moleculares e com a descoberta da regulação gênica determinada pelos microRNAs, que são RNAs não-codificantes (ncRNAs) constituídos por 19 a 25 nucleotídeos, sendo responsáveis por diversos processos celulares e estariam relacionados com diversas patologias, inclusive com a DE.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
Minha Tese de Doutorado na Universidade de São Paulo – USP
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17137/tde-29082016-102130/pt-br.php